"Nós estamos cientes de sua atividade em Bogotá", disse a voz masculina
anônima ao telefone. "Estamos mantendo olhos e ouvidos em você, para
saber o que você vai dizer."
A ligação para o celular da líder cristã Arhuaca, Elizabeth Torres
aconteceu uma semana antes da mesma falar, no primeiro fórum realizado
pela Portas Abertas, sobre os direitos do indígena cristão da Colômbia,
em Bogotá.
Seu testemunho foi para recontar a perseguição cruel que sua família
cristã e outras 46 famílias também cristãs da etnia Arhuaca, sofreram
por causa de sua fé.
Cerca de 300 pessoas, incluindo o governo e funcionários encarregados
dos direitos humanos, cristãos indígenas e representantes dos meios de
comunicação, vieram para ouvir em primeira mão os relatos dos repetidos
abusos cometidos contra os povos indígenas que abraçam o Evangelho.
Elizabeth sabia que sua participação poderia colocá-la em perigo; no
entanto, como os outros participantes, ela disse aos colaboradores da
Portas Abertas que seria melhor não manter em silêncio, mas sim aumentar
a conscientização sobre os abusos cometidos contra os cristãos
indígenas.
No final do fórum, ela embarcou em um ônibus para a viagem de 16 horas
de Bogotá para sua casa no norte da Colômbia. Um homem que entrou no
ônibus, se aproximou por trás dela.
"Eu sou uma das pessoas que estão assistindo você," ele disse a ela.
"Nós sabemos com quem você estava em Bogotá e o que você está tentando
fazer."
Elizabeth prendeu a respiração e permaneceu em silêncio, orando em voz baixa pedindo a Deus por proteção.
Uma semana depois, em sua comunidade, dois homens em uma motocicleta a
pararam. Eles se identificaram como líderes indígenas da organização que
tem atacado cristãos e disseram que ela deveria parar de acusá-los e ao
contrário do que vinha fazendo, trabalhar para eles como uma
informante. Seu trabalho consistiria em contar-lhes os movimentos,
atividades e projetos dos cristãos indígenas. Em troca ela receberia um
salário
mensal que lhe permitiria viver confortavelmente e apoiar seus pais e sua filha.
Ela não disse nada, e os homens saíram em sua motocicleta. Com muito
medo, no dia seguinte Elizabeth relatou o que havia acontecido ao
Ministério Público, culpando a organização tradicionalista indígena se
alguma coisa acontecesse com ela ou sua família.
Em seguida ela mudou seu número de telefone, reduziu suas atividades, e
começou a variar sua rota de viagem ao redor da cidade para impedir as
chances de ataques físicos.
Mesmo tendo tantos cuidados, um tempo depois, ela recebeu um telefonema
em seu novo número. Um homem jurou para ela antes de lhe dizer que ele e
um grupo de pessoas tentaram raptá-la em casa. O que os impediu,
segundo ele, foi a presença de cerca de 20 homens uniformizados
militarmente ao redor de sua casa.
"Você acha que isso vai nos assustar? Agora você tem o exército para
protegê-la, mas eles não vão estar sempre disponíveis para
acompanhá-la", disse ele.
Eliza ficou chocada. Ela nunca teve qualquer ligação com o exército,
apenas orou para que Deus enviasse anjos para guardar sua vida e sua
casa.
"O que aconteceu é que eu tenho um Deus que me protege e que enviou
seus anjos para me guardar", ela disse a quem estava ligando. "Você vai
ter problemas se continuar me perseguindo."
O homem lhe disse que ele e seu grupo por várias vezes haviam tentado
tomar medidas contra ela, mas simplesmente não conseguiam. "Agora eu
entendo que você é realmente uma verdadeira cristã", disse ele. "Mas
cuidado, porque outros podem procurar por você e conseguir pegá-la."
Ela expressou seus temores, por meio de um e-mail, a um trabalhador da
Portas Abertas: "Como eu lhe disse, esta é uma luta, mas o Senhor em Sua
Palavra nos diz: Não tenha medo. Eu estou com você. E isso é o que eu
tenho feito: confiar no Senhor. Mas eu tive que mudar meu número de
telefone. Perdoe-me por não ter te ligado, ou me comunicado, mas às
vezes eu sinto medo."
A necessidade de defender
Desde 2009, a Portas Abertas tem auxiliado Elizabeth e outras famílias a
reivindicarem os seus direitos como indígenas colombianos. Devido a
erros de interpretação da lei, o Tribunal Constitucional violou seus
direitos fundamentais à posse da terra e dignidade.
O fórum da Portas Abertas no qual Elizabeth participou, "Autonomia e
justiça indígena: Licença para violar os direitos humanos?" excedeu as
expectativas de ajuda da Portas Abertas.*
Elizabeth, 23 anos, mãe e estudante de engenharia de sistemas, falou
sobre o deslocamento e as práticas de maus tratos que ela e sua família
têm sofrido, desde 2006, quando líderes indígenas tradicionalistas
detiveram a comunidade de cristãos em massa e os mantiveram sem comida
ou água por três dias. Em seguida, os militantes da FARC os removeram à
força de suas casas e terras.
Tanto os guerrilheiros como os líderes indígenas tradicionalistas se
opõem à Igreja. Grupos ilegais de esquerdistas armados da Colômbia
acreditam que a Bíblia faz uma lavagem cerebral nos cristãos e que os
cristãos são informantes para os Estados Unidos e para os governos
Colombianos que nunca apoiarão sua revolução. Os tradicionalistas
líderes indígenas acreditam que o Cristianismo ameaça tradições
ancestrais, e se aliaram com as guerrilhas da FARC ativas na região
montanhosa ao norte de Cesar para expulsar os indígenas que abraçam o
cristianismo.
Poucas semanas depois que Elizabeth havia dado à luz, ela, seu bebê e
sua mãe, Raymunda, foram presos por uma semana sem comida ou líquido.
Depois que elas fugiram, encontraram seu pai, Juan, em uma cidade
próxima. A própria prisão de Juan durou três meses, durante os quais ele
ficou gravemente desnutrido, perdeu as habilidades motoras e parte de
sua visão.
Eventualmente, as outras 45 famílias que haviam sido expulsas chegaram
na cidade de Valledupar, onde se juntaram à Associação dos Indígenas
Deslocados, fundada em 2007 para procurar a ajuda do governo local. Mas,
apesar desses esforços, a influência de líderes indígenas tem impedido
as autoridades civis em Valledupar de ajudar os cristãos. Os líderes
argumentam que aqueles que optam pela fé cristã, na verdade, renunciam
suas identidades indígenas, perdendo assim todos os direitos tribais e
benefícios, incluindo terra, alimentação e educação.
Algumas famílias optaram por renunciar aos seus direitos como
indígenas. Consequentemente, eles trabalham em qualquer emprego
disponível para sobreviver em uma cidade onde não podem usar sua língua
nativa Arhuaco ou trabalhar em suas ocupações anteriores, como os
produtores de café.