Reportagem
do New York Times (NYT) fala sobre desafio do sucessor de Bento XVI
para manter o Brasil com status de país com a maior população católica do mundo diante do crescimento das igrejas evangélicas.Sob o
título “No Brasil, um laboratório para reverter o declínio do
catolicismo”, o jornal The New York Times dedica uma reportagem ao
cenário que o sucessor de Bento XVI encontrará no país – e as ameaças
que o Vaticano terá de enfrentar. “Se há um lugar que reúne os desafios
enfrentados pelo catolicismo no mundo, este lugar é o Brasil, país com o
maior número de católicos e uma espécie de laboratório para as
estratégias da igreja para atrair os seguidores de volta”, diz a
reportagem.
O texto (leia a
íntegra,
em inglês) diz que o Brasil disputa com os Estados Unidos o status de
nação com maior número de pentecostais, em um momento em que a Igreja dá
lugar ao surgimento de uma onda de igrejas evangélicas protestantes.
Apesar da icônica estátua do Cristo Redentor que se eleva sobre o Rio de
Janeiro, segue a reportagem, “há uma profunda ansiedade entre alguns
católicos sobre o futuro de sua fé devido ao crescimento da
secularização e indiferença em relação à religião”. Apenas 65% dos
brasileiros dizem que são católicos, contra mais de 90% em 1970, segundo
o censo de 2010. “O declínio tem sido tão excessivo e contínuo,
especialmente no Rio, que um dos líderes da Igreja Católica no país,
cardeal Cláudio Hummes, ressaltou: ‘Nos perguntamos com ansiedade: por
quanto tempo o Brasil continuará a ser um país católico?’”, ressalta a
reportagem.
O jornal lembra que a presença de Bento XVI era
esperada para julho, na Jornada Mundial da Juventude. “Muitos dos fiéis
brasileiros tinham esperança que a viagem representasse um novo foco do
Vaticano na dupla ameaça da competição evangélica e crescimento do
secularismo”. A expectativa agora é que o novo papa ainda visite o Rio –
lembrando que dois brasileiros, o cardeal João Braz de Aviz e Odilo
Scherer, arcebispo de São Paulo, estão entre os apontados como possíveis
candidatos a suceder Bento XVI. “Mas outros parecem resignados ao que
descrevem como uma combinação de negligência e condescendência por parte
do Vaticano”.
O New York Times cita uma socióloga da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Silvia Fernandes,
afirmando que a grandes divisões na Igreja Católica brasileira, entre os
bispos da Amazônia, que estão focados nos direitos humanos, do
desflorestamento e na luta indígena, e as lideranças mais conservadoras e
tradicionais da Igreja, no “relativamente próspero” sudeste do país.
Religiosos cantoresO
jornal cita o grupo de padres cantores pertencentes ao movimento
Renovação Carismática, “que busca revigorar as cerimônias católicas para
aproximá-las do que os paroquianos geralmente encontram em outras
igrejas”. Esses padres foram acolhidos pelo Vaticano, mas só até certo
ponto, ressalta o jornal, citando o exemplo mais famoso, o padre Marcelo
Rossi, um ex-personal trainer de 45 anos que já vendeu mais de 12
milhões de CDs e já celebrou uma missa em um estádio de futebol lotado
com dezenas de milhares de pessoas. “Ele reclama de ter se sentido
“humilhado” durante a visita de Bento XVI ao Brasil, em 2007, quando
lideranças católicas o impediram de chegar perto do papa”.
O
jornal cita ainda o que chama de “missas de libertação”, “que se
assemelham a grupos de exorcismo e recebem congregantes que falam em
diferentes línguas”. “Embora aspectos como estes possam desagradar
alguns dentro da instituição Igreja Católica, o movimento carismático
claramente conseguiu atrair muitos adoradores”.
O New York Times
ressalta a influência da bancada evangélica no Congresso Nacional, a
ampliação das atividades das igrejas evangélicas em países da América
Latina e da África e o acesso de líderes evangélicos a passaportes
diplomáticos. Lembra ainda a construção de grandes igrejas, citando o
projeto de 200 milhões de dólares da Igreja Universal do Reino de Deus
para erguer uma réplica do Templo de Salomão em São Paulo, com
capacidade para 10.000 pessoas. Cantores evangélicos também têm muitos
fãs, segue a reportagem, como Aline Barros, vencedora do Grammy com
quase um milhão de seguidores no Twitter. Na televisão, pastores como
Silas Malafaia, líder pentecostal do Rio de Janeiro, tornaram-se
proeminente depois de atacar apoiadores do aborto e dos direitos dos
gays.
Secularismo e fertilidadeEnquanto
os evangélicos tornam-se mais poderosos, uma nova mudança ameaça igrejas
de todos os tipos no Brasil, destaca o NYT: o crescimento do
secularismo. Andrew Chesnut, especialista em religiões latino-americanas
na universidade Virginia Commonwealth, diz que o seguimento que cresce
mais rapidamente no cenário religioso brasileiro atualmente é o de ateus
e pessoas não afiliadas a nenhuma igreja, grupo que corresponde a 15%
da população.
“Para um país que tinha níveis desprezíveis de
pessoas que se diziam ateus até a década de 1980, esse desenvolvimento
aponta para grandes mudanças na sociedade brasileira”, diz o texto.
“Para aumentar o problema para o Vaticano, muitas pessoas no Brasil que
se dizem católicas raramente vão à missa, e católicos praticantes muitas
vezes expressam frustrações em relação às políticas do Vaticano”.
Na
América Latina, cada vez mais pessoas dizem não ter uma afiliação
religiosa, fenômeno similar ao verificado na Europa e nos Estados
Unidos, mas talvez menos pronunciado, avalia Philip Jenkins, professor
de história do instituto para estudos da religião na Universidade
Baylor, entrevistado pelo New York Times. Um sinal desse movimento seria
a queda nas taxas de fertilidade, “que para a igreja significa menos
crianças para serem batizadas, menos jovens candidatos a padres e
freiras, e diminuição dos laços dos pais com a Igreja Católica”.
A
taxa de fertilidade no Brasil, uma das menores da América Latina, está
em cerca de 1,83 criança por mulher. “Se eu fosse um cardeal brasileiro,
eu estaria ainda mais preocupado com o tamanho da família e as taxas de
fertilidade, que são um prognóstico muito bom de secularização, do que
com o Pentecostalismo”, diz Jenkins.
Fonte: Veja.com