A polêmica capa do LP "Eu não sou santo", de Bezerra da Silva, em 1990.
José Bezerra
da Silva nasceu em Recife e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 15 anos
fugindo da fome, apenas com a roupa do corpo. Fez a viagem num navio que
carregava açúcar.
Durante sete
anos viveu como mendigo nas ruas de Copacabana, onde inclusive tentou
suicídio, mas foi salvo por um Santo da Umbanda, onde se tornou um
praticante até ingressar na Igreja Evangélica. Passou então a trabalhar
na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra
no centro da cidade onde exercia sua profissão.
Iniciado na
música por Jackson do Pandeiro, Bezerra estudou violão clássico por oito
anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da TV Globo. Era um
dos poucos partideiros que lia música.
Como ele
próprio explica, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do
"medo da fome", onde a única saída que tinha era "lutar por dias
melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia".
Cantor e
compositor de veia ácida, Bezerra fazia duras críticas contra as
injustiças sociais. Suas músicas eram quase sempre de outros
compositores, em parcerias que ele cultivava há muitos anos. Nas letras
dos sambas desses compositores se expressam os conflitos sociais de uma
população marginalizada. Tudo através de uma ótica bem humorada, mas
também áspera. São letras com palavras duras, de uma gente lutadora e
inconformada.
Bezerra não
gostava que o chamassem de pagodeiro, pois dizia que "quando a música é
feita por pobre, analfabeto ou crioulo, eles dizem que é pagode. Eu não
aceito isso!".
Apesar de
ser um campeão de vendas (seus mais de 25 discos já venderam
aproximadamente três milhões de cópias), Bezerra da Silva foi sempre
excluído da grande mídia.
Em 2001
retornou à Igreja Universal do Reino de Deus e em 2003 gravou um CD com
músicas gospel. Em 2005, perto da morte, mas ainda em plena atividade,
participou de composições com Planet Hemp, O Rappa, Velhas Virgens e
outros nomes da MPB.
Bezerra
morreu na manhã de segunda-feira, dia 17 de janeiro de 2005 aos 77 anos,
depois de sofrer uma parada cardíaca. O curioso desta data é que
Bezerra, quando morresse, queria que não fosse numa sexta-feira ou
feriado, para não atrapalhar a praia dos amigos. E morreu numa
segunda-feira - ou seja, depois do fim-de-semana, e a data da sua morte
forma o número 171 (17/1).
Considerado o
embaixador dos morros e favelas, cantou sobre os problemas sociais
encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da
marginalidade e da indústria musical.
É
considerado também um dos principais expoentes do samba do estilo
partido alto. Os principais temas de suas canções foram a vida do povo e
os problemas da sociedade e das favelas, como a exploração e a opressão
sofridas pelos trabalhadores, a malandragem e ladrões à margem da lei, a
questão do uso de drogas como a maconha e a condenação à caguetagem
(delação de companheiros). Esta última temática refere-se a uma das
principais estratégias de sobrevivência onde a "malandragem" exerce
influência e medo para que os moradores destas localidades não os
delatem aos órgãos do Estado.
Reflexos de
uma sociedade sob um estado incapaz de garantir a segurança da
população, que precisa apelar para a segurança oferecida por
traficantes, pois os indivíduos de fora deste grupo social os tem como
inimigos. Concluindo-se assim, que não são os moradores do morro que
fomentam a guerra, apenas defendem-se como podem.
Fonte: Diego Vieira em Imagens Históricas
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